Metamorfose ambulante

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Eu sou mesmo tudo isso: imprevisível e inconstante. Até demais. Como você mesmo observou. Uma hora quero ir para o norte, outra para sul. Nunca sei pra onde devo ir, mas finjo que sei onde quero chegar. Nem sempre quando estou sorrindo estou feliz, e nem sempre que choro estou triste. Uma hora só sei escrever sobre minha dor. Em outra, declaro pro mundo o meu amor. Como toda geminiana, tenho um lado disperso e ansioso e sem muita paciência para joguinhos amorosos. Mas, o outro lado, é totalmente diferente: concentrado e sereno. Em um momento poderei ser amorosa e gentil, doce e brincalhona. No minuto seguinte, por um motivo qualquer, tudo muda bruscamente, serei intensa e arrebatadora. Ah! Eu sempre estarei certa, se acostume com isso. Mas posso mudar de ideia rapidamente, basta uma boa dose de papo bom. Não menos importante, eu sou desconfiada, desconfio de tudo até que me provem ao contrario. Enquanto não quero e nem preciso de pessoas ao meu lado, necessito delas e não consigo largá-las mais. Me desapego fácil ao mesmo tempo que me apego. Assim como trocar de roupa e de corte e cor de cabelo. Sem, é claro, esquecer que minha vida, quase sempre, é um livro aberto. Mas quando algo me magoa, procuro me fechar em um casulo. Eu sou assim, esse turbilhão de sentimentos, pensamentos e ações.  Eu sou assim, duas, três, quatro, cinco... mil mulheres dentro de uma só. Talvez seja uma por dia, por semana ou uma por mês. Mil e uma por ano. Diversifico-me, renovo-me a cada instante, sem ninguém notar. Mas, mesmo assim, você aceita ficar comigo?

Metamorfose Ambulante - Raul Seixas